Se perguntarmos para qualquer Karateca qual é a base de um treino de Karate a reposta tende a ser unanime, Kihon, Kata e Kumite.

 

Em analogia, temos por Kihon como sendo letras, o Kata as palavras, e o Kumite textos, cada qual é importante, e cada qual precisa do seu tempo de maturação.

 

O problema hoje é que quase todos os trabalhos são realizados de modo individual, inclusive muitos exercícios na parte de Kumite. Onde está o conflito? Bem, treinamos uma arte marcial, ela precisa de situações de combate, para se treinar de fato combate, e hoje quando o treinamento é direcionado para isso, o Kihon e o Kata são facilmente distanciados do trabalho de Kumite, senão esquecidos.

 

Voltemos ao Kihon, que por sua definição temos o termo fundamento, bases perfeitas, defesas rápidas, etc. Não, não é essa a ideia, fundamento, você precisa de equilíbrio, destreza, precisão, força, conhecimento corporal, saber recrutar os respectivos músculos para a execução de uma técnica, conseguir se movimentar bem, isso é fundamento, e claro, movimentos básicos que vão ser considerados em Kata.

 

(Um adento para o termo movimentos básicos, não especifiquei nem como ataque, nem como defesa, um movimento é genérico, logo ele pode ser usado para qualquer finalidade)

 

Treinamento de fundamento, equilíbrio, 
quadril, chute, recuperação, respiração, 
conhecimento corporal, e resistência.

 

Como base nisso, começamos a trabalhar o Kata, ou seja juntar os fundamentos a fim de fluir facilmente entre eles chegando assim ao entendimento de conceitos mais complexos, como desestruturar nosso adversário e controlá-lo, nos possibilitando trabalhar em cenários mais prováveis de conflito, que deverão ser treinados contra alguém aplicando uma respectiva resistência e pressão. Talvez essa seja a palavra que defina bem a ideia base desse artigo, pressão.

 

Conceitos mais complexos, geração de energia, 
desequilíbrio, desestrutura, controle, fluência  
entre os conceitos e fundamentos.

 

Chegando ao Kumite temos diversos exercícios a serem realizados, cenários improváveis, cenários prováveis, curta distância, média distância, com restrição de movimentos, sem restrição de movimentos, no chão, etc. Tudo isso dentro de um mesmo ritmo, ou seja, se agressor colocar pressão, o praticante deverá responder no mesmo tom, e o inverso também deve ser verdadeiro.

 

(Algo que realmente me incomoda, é o treino arranjado onde o agressor ataca de modo freado e monossilábico, e o praticante utiliza pressão para responder, assim como diversos golpes em sequência, fugindo drasticamente de uma possível realidade)

 

Trabalho de ação e reação, para agilidade,
uso de mesma intensidade

 

Outro ponto que deve ser levado em consideração é que mesmo em exercícios controlados, um praticante utilizar mais de três ataques, sem que ao menos o adversário reaja, é realmente um treino sem sentido. Se o objetivo do exercício não for realizar um estudo de combate, sparring, temos de ter por objetivo finalizar um combate com no máximo dois ou três movimentos.

 

Cenário provável de conflito

 

Então, treinamos nossos fundamentos, para conseguirmos entender conceitos mais complexos, para usarmos em exercícios controlados, exigindo diferentes objetivos, escalando sempre a intensidade da pressão e resistência.

 

Agora, nos temos um estrutura de treino voltado para que o praticante consiga responder de modo eficiente em momentos de pressão, isso sim, define bem a base de um treino de Karate.

 

Pegando o gancho do título do artigo, onde fazemos o que treinamos, ou seja, não importa se você sabe um fundamento, uma técnica, se você não treiná-la repetidamente dentro de um cenário desfavorável (cansado, contra adversários mais fortes e/ou mais experientes), você dificilmente conseguirá executá-la quando necessário, e obter um resultado eficiente.

 

Em um momento sendo trabalhado a assimilação 
de ataques, e em outro momento a distância e evasão.

 

Combate livre, levando em consideração
a experiência do menos graduado