Está um pouco mais claro que uma forte característica do Karate é o conceito de desestrutura, no qual possuímos alguns recursos, em exemplo o fundamento de puxada de mão. (Hiki Te)
Esse movimento e diversos outros presentes nas formas (Kata) são validados por mestres de outrora, com uma forte premissa de que não existem movimentos sem sentido.
Como assim?
Simples, tudo que está presente dentro das formas são movimentos funcionais. Ou seja, tudo serve de base para estudo, seja um movimento, uma sequência de movimentos ou os ângulos das transições dos movimentos. (Saber o que desconsiderar ou o que são variações de uma mesma técnica são premissas mais avançadas de estudo, tema para outro artigo)
Vamos pegar novamente o fundamento de puxada de mão. Note que ele nunca está sendo executado de modo isolado, independente do Kata, independente do estilo. Ou seja, não podemos considerá-lo uma técnica completa, pois é necessário adicionar algo, em muitos casos um movimento que gere impacto no sentido contrário a puxada. (Primeira técnica ensinada, Choku Zuki, é um exemplo)
A partir dai, chegamos a outro conceito chave em muitos estilos marciais (principalmente os fundamentados na arte de agarrar) que é o conceito de puxa-empurra. Judo, Wrestling americano, chinês (Shuai Jiao), okinawano (Tegumi), greco romana, e tantos mais, todos com suas técnicas tomando partida pelo conceito de puxa-empurra, para conseguir a desestrutura postural do adversário.
Por essa questão que sempre comento com meus alunos, que o importante não é entender as aplicações usadas como exemplo, e sim os conceitos e fundamentos que usamos para chegar a elas. Isso nos possibilita uma maior liberdade na execução de recursos, variando conforme a nossa necessidade em um dado cenário.
Entendemos que usamos o fundamento de controle para quebrar estruturas, e criar brechas, agora vamos modificar nossa ideia de como controlar para o que controlar.
Nosso corpo é formado por junções cujos movimentos são complexos, porém limitados. Por isso, entendermos como levar essas junções ao seu limite (Kansetsu Waza) é uma base forte para estudar diversos conceitos presentes no Karate.
Para esse estudo, temos de levar em consideração que quanto menor a estrutura, mais fácil é para controlá-la, em exemplo temos dedos, cotovelos, ombros, joelhos, tornozelo, pescoço.
Saímos da ideia de estrutura mecânica para nervosa (Shime Waza), zonas de grande sensibilidade que temos como nariz, olhos, orelha, garganta, testículo, tudo isso passível de controle por movimentos de pegada, outra forte característica do Karate.
Finalizando, temos a ideia espacial, presente nos fundamentos de distância e deslocamento, onde devemos pensar que nosso adversário está ocupando um espaço que nos pertence. Por conta disso precisamos buscar esse espaço para nos, quebrando suas estruturas, controlando seus movimentos, e realizando ofensivas que nos tragam maior segurança.
Assim como nosso corpo, temos de ter também uma mente bem treinada para identificar situações e saídas, perceber uma brecha ou saber juntar conceitos e fundamentos para criar uma, e buscar resolver o problema o mais rápido possível. (Em quantos movimentos você acha que precisamos para resolver um conflito? Quanto tempo você realmente acha que teremos para conseguir isso?)